Detentor de um traço incomparável e uma criatividade acima da média, trazemos para vocês uma entrevista de um dos grandes mangakás da atualidade, tanto no Japão quanto aqui no Brasil. Makoto Yukimura.
Entrevista ao canal francês ARTE (tradução e adaptação por Renato Souza)
Em uma de suas primeiras publicações de sucesso, Planetes, Makoto Yukimura resolve falar conosco e nos contar de como produz histórias assim, pensando mais além que qualquer outro já tenha pensado. O destino da humanidade, ou fatos históricos que nos prendem tanto como em Vinland Saga. Com vocês senhoras e senhores, Makoto Yukimura!
Aos seus 34 anos, e no auge de sua carreira, Makoto Yukimura respondeu nossas perguntas enquanto autografava um de seus personagens mais marcantes já criado, o destemido Askelad.
ArteTV (AT): De onde vem o seu interesse em fazer mangás?
Makoto Yukimura (MY): Sinceramente, só entre nós (risos), eu era muito ruim nas notas da escola. eram cerca de 300 alunos cursando o mesmo nível, e eu ficando em penúltimo na classificação das notas. Deu pra perceber o quanto era ruim né. Quando comecei a me interessar por mangá, que era e ainda é a sensação dos japoneses, me veio o interesse para estudar e pesquisar sobre as histórias que iria fazer, então minhas notas decolaram.
AT: Sua primeira série Planetes, fala da conquista do espaço, visto através da vida de "lixeiros espaciais". Qual motivo o fez lidar com esse assunto de um angulo tão inesperado?
MY: Foi uma ideia realmente simples. Estava em uma biblioteca certa vez, e me deparei com um livro científico que falava sobre os restos de naves e satélites espaciais que ficavam na órbita terrestre. Eu achei realmente interessante saber que estes detritos eram perigosos para nós, e de que, em algum momento da vida, digo, daqui uns anos luz, esses detritos estariam atrapalhando muito o andamento do planeta. Quando li o livro resolvi fazer uma história de como seria isso.
AT: Planetes combina fatos científicos reais com uma abordagem psicológica dos personagens. Existem livros que te inspiram para fazer esta literatura em modo de ficção científica, como as pesquisas de Gregory Benford ou Allen Steele?
MY: Não, nada muito complexo. Eu fui muito influenciado por Arthur C. Clarke. Não posso dizer que nossas obras são iguais, mas eu me sinto profudamente impregnado ao mesmo dilema que ele coloca em suas teorias. E claro, se eu listar aqui também, a maioria dos livros que busco ajuda de pesquisa vem de escritores nacionais (japoneses), um até posso citar que é muito bom no que escreve e tem teses maravilhosas, como o Sr. Tani Koshu. O trabalho dele foi essencial para mim.
AT: Planetes é uma série bastante curta.
MY: Sim. Planetes poderia ter dezenas de volumes, se eu fosse contar os trabalhos realizados diariamente pelos catadores de lixo espacial. Mas como meu objetivo foi trabalhar com a vida dos personagens em um cenário novo e futurista. gosto de contar a história toda com começo meio e fim, e quando vejo que ela já tem conteúdo suficiente, eu a termino, independente de quantos volumes forem. Tome como exemplo Vinland Saga, onde existem tantos fatos históricos a serem mostrados, que não daria para produzi-lo em apenas 4 volumes. Preciso mostrar a violência Viking diária que eles exercem antes de trabalhar minha própria história de personagens. Em Planetes não precisei fazer isto.
AT: Bom, já que falou, vamos mudar para Vinland Saga. É um projeto mais ambicioso onde você teve que aprender sobre a sociedade Viking em todos os seus aspectos, políticos, militares, religiosos... Imaginamos o quanto foi trabalhoso pesquisar todos estes fatos.
MY: Veja bem, foi trabalhoso, mas também muito importante. Este mangá demorou cerca de um ano só para mim pesquisar estes fatores que citou. Tive que ler muito e aprender bastante sobre os Viking's antes de iniciar o primeiro Storyboard dos personagens. E durante este período, o artista precisa ter um controle de ansiedade enorme. Passei muito tempo mesmo tendo que preparar esta série.
AT: Especificamente, quais foram suas fontes? Você leu mangás sobre o assunto, ou olhou trabalhos de historiadores.
MY: Eu me concentrei apenas em livros e trabalhos de historiadores simplesmente porque não existe nenhum mangá Viking que realmente trate o assunto a sério. O único trabalho que conheço a respeito é o desenho animado Vic the Viking , e este não tem tantos fatos históricos.
AT: Quando você é um japonês que vive nos anos 2000, como é desenhar Vikings que estão vivendo a mil anos atrás?
MY: É realmente muito difícil! Eu sou obrigado a usar minha imaginação ao máximo, já que o universo é todo diferente do cotidiano, e não tenho nenhum suporte para isso. Você sabe, no verão, Tóquio é uma cidade extremamente quente, e eu tenho que ficar as vezes só de cuecas, para desenhar paisagens completamente geladas! A cabeça se esforça ao máximo pelos Vikings! (risos)
AT: Uma coisa notável em sua série é manter suprema a glória dos Vikings. Mesmo que eles matem e torturem civis, eles são considerados os heróis do seu mangá.
MY: Podemos dizer que é verdade. Eu não tenho a intenção de retratar positivamente esses personagens violentos. Os meus heróis nascem e vivem dentro da violência. Tive que trabalhar muito os personagens para valoriza-los mais tarde, Na verdade, os verdadeiros guerreiros da história ainda não apareceram, e daqui a mais alguns volumes, vai descobrir quem realmente são os heróis de Vinland Saga.
AT: Quantos volumes você planeja ter em Vinland Saga?
MY: Quando perguntaram na conferência que tive com editores, respondi que seria em torno de 25 volumes. Mas quando respondi estava apenas batendo em uma meta para a revista. Quando eu crio o roteiro de meus mangás, gosto de planejar, do mesmo jeito que um corredor corre apenas 5km por vez. Não posso fechar a minha história sem ter fechado todas as pontas que abri para destinos de personagens. Eu apenas penso naquilo que preciso mostrar, e corro mais 5km, me concentrando para um dia terminar a corrida!
Entrevista original feita em 30 de Janeiro de 2010
Entrevista original feita em 30 de Janeiro de 2010
E aqui segue um vídeo de Makoto Yukimura desenhando!
Me sinto na obrigação de finalizar este artigo, dizendo que foi muito gratificante para mim traduzir esta entrevista, já que considero Makoto Yukimura um mangáka que tem enorme potencial, e Vinland Saga um dos melhores mangás que já li! É isso amigos do Leitura Oriental! Espero que tenham gostado, e até a próxima!
Renato Urameshi Escreve sobre anime e mangá desde os tempos de clube por cartas. Leitor nostálgico da Animax e derivadas, gosta de discutir assuntos polêmicos e de fundo jornalistico | Google + |
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ResponderExcluirimpressionante esse ultimo comentário.
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